domingo, 27 de maio de 2012

Contos que ninguém quer ler, Parte I

Um Dia na Cidade

(trilha sonora): 


E eu corri cidade afora, após ter acordado e tomado uma xícara de café amargo que não consegui tomar por inteiro, pois me lembrou momentos passados em algum momento de desilusão. Saí e vi um jornal caído na calçada e a manchete principal estava encoberta por lama recente e eu só consegui ler "mais juros" e decidi seguir em frente em um rumo que só dizia respeito a mim mesmo. A coisa começava a fazer efeito, e tudo se passava a velocidade do som e eu não me ouvia. Não, eu não ouvia nada, só conversas interiores, e os meus fantasmas não me ajudavam em nada, os meus fantasmas só me indicavam erros e mais erros, preciso exorcizá-los o mais rápido possível. Tomei fôlego, olhei para o alto e lá em cima vi a figura de um anjo, não, não era coisa nenhuma, era um lavador de janelas, e um lavador de janelas não tem absolutamente nada de poético, nem para o lado da tristeza nem para o lado da alegria. Parei no semáforo, e a luz estava vermelha (para mim) e eu esperei que os automóveis passassem até que o mundo me desse permissão para continuar e eu continuei porque ficar parado é coisa que não combina com uma vida pensante e mesmo a maior preguiça do mundo é um símbolo de rebeldia, e rebeldia pensa e pensamento corre e não é parado. Preciso parar com isso, preciso correr, preciso tomar alguma coisa para me sentir livre desse mundo que compete e que não sabe (sim, sabe, mas fingi que não) que tudo ao final vai acabar pó, voltaste ao pó, eu quero sentir o Universo lá fora, mas o Universo não responde a ninguém, ele é indiferente e seus bilhões de anos são como nada diante de uma eternidade que nos é negada, ainda bem.
Cheguei a casa dele, tirei a minha arma do bolso e atirei cinco vezes no peito dele, aquela cara de surpresa, ele não devia estar surpreso porque sabia que eu ia fazer aquilo, que o Senhor o tenha. E não me perdoe.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Os sucessos musicais do momento, Parte I

"Eu quero tchu, eu quero tcha"- João Lucas e Marcelo


Em primeiro lugar, vou ser justo com os cantores. Onomatopéias que simbolizam o ato sexual são bastante antigas na música pop, desde o "A-Whop-bob-a-loo-mop-a-whop-bam-boom" (ou algo assim) de Little Richards e enorme sucesso na voz de Elvis Presley, então esse 'tchú-tchá'  tem predecessores universais. Musicalmente a música é bastante pobre, como era de se esperar, na verdade é um fiapo de melodia e uma forte batida grave para encobrir essa mesma melodia, ou seja, música para se colocar em carros de jovens que querem se exibir com seus potentes auto-falantes automotivos. Os compositores são bastante espertos e sabem que o grande público quer é qualquer coisa que tenha um refrão grudento (para eles) e som alto. A letra da música, é risível, mas como já dito acima, não tem importância alguma na música. Porém, não me furto a comentar alguns trechos da mesma. A estrofe única (que se repete), é toda feita em uma rima de 4ª série do fundamental, usando a tradicional 1ª conjugação:


"Cheguei na balada, doidinho para biritar  (relações pessoais inexistem, o cara vai só para beber)
A Galera tá no clima, todo mundo quer dançar (As músicas da Xuxa estão repletas desse bordão)
Uma mina me chamou, e disse "faz um tchu tchá tchá (Começa a interferência dessa mina 'viajada' se é que vocês me entendem.Em algumas versões aparece o nome do Neymar, mas acho que ele deve ter cobrado os direitos de imagem)
Perguntei o que é isso, ele disse "vou te ensinar"  (Além de baladeira a mina é instrutora coreográfica, e como veremos a seguir, bastante 'viajada')
É uma dança sensual, em Goiânia já pegou (a 'febre' aparece em diversos pontos, totalmente sem relação uns com os outros.)
Em Minas explodiu, em Santos já bombou (parece que desta vez São Paulo e Rio de Janeiro ficaram para trás, tanto é que na outra versão aparece Tocantins.Tocantins????)
No Nordeste 'as mina faz' (sic) , no verão vai pegar (interessante que pegou em Goiânia, explodiu em Minas, bombou em Santos-Tocantins e no Nordeste 'as mina faz', o que me leva a crer que não existe verão nestes lugares)
Então faz o tchú tchá tchá, o Brasil inteiro vai cantar (mais um erro, porque eu não vou cantar)


Grotesco. Mas não me surpreende, a música pop sempre foi pródiga em imbecilidades como essas. Errado sou eu, que as refuto. (o número de exibições da música no Letras.terra.com.br  é de quase dois milhões)


Link para download: me recuso a divulgar isso. E também nem preciso, pragas se espalham sozinhas.





terça-feira, 8 de maio de 2012

Obras incrustadas em Pedra, Parte II

A Oitava Sinfonia de Beethoven (em Fá Maior, op.93)

Quando da sua primeira apresentação em Viena (em 27 de fevereiro de 1814, em uma gigantesca apresentação beethoviana, que incluía também a Sétima Sinfonia, o 5º Concerto Piano e a Grande Fantasia Coral), a Oitava parece ter sido menos apreciada que a Sétima, que foi tocada antes. Segundo Czerny, Beethoven irritou-se porque "precisamente esta (a Oitava) era bem melhor que a Sétima". Com efeito, a Oitava foi frequentemente eclipsada, e bem injustamente, pelas outras sinfonias de Beethoven, mais populares. Mas isto representa, acima de tudo, a modificação do gosto musical que verificou-se no século XIX. Wagner, por exemplo, não a apreciava, considerando-a "música fria". O compositor francês Berlioz (autor da revolucionária Sinfonia Fantástica), adorava a Oitava Sinfonia.Ele referia-se ao segundo movimento, o allegretto scherzando, "é uma dessas produções para as quais não se pode encontrar nem modelo nem paralelo: isso cai inteiro do céu como pensamento do artista; ele escreve tudo de um fôlego, e nós ficamos estupefatos a escutar". Tudo se passa como se Beethoven tivesse também querido demonstrar no terceiro movimento, o Tempo di Menuetto a que proezas artísticas um simples Ländler  podia dar origem. Fica-se particularmente surpreendido com o fim do movimento que é conduzido por uma 'falsa' entrada das madeiras. O último movimento, Allegro Vivace , é um dos finales mais engenhosos e mais complicados compostos por Beethoven. Berlioz referiu-se a ele como "esplêndidos, desenvolvidos de uma nova maneira e com luxo" . Deve-se ainda destacar que a ideia principal do Finale é uma surpreendente transformação do motivo do Allegretto.

A oitava com o passar dos anos, foi tornando-se  a minha sinfonia predileta de Beethoven. Claro, não há como esquecer a força da Terceira, a solenidade da Quarta, a tempestade da Quinta, a calma da Sexta, a paixão da Sétima e o clamor humanista da Nona, mas a Oitava, é para mim, poesia pura.

Link para download: http://www.4shared.com/mp3/e8pdNLEt/8thsymphonyBeethoven.htm



quarta-feira, 2 de maio de 2012

Letras Antíteses de "Ai, se eu te Pego", Parte III

Randy Newman, "Sail Away"

Eu já escrevi em algum lugar (não me recordo onde) que está canção é uma das melhores já escritas sobre a escravidão (seja ela qual for), porque é de uma beleza e sutileza ímpares. O narrador tenta convencer o 'a ser' escravizado (no caso aqui, os africanos), de que o lugar para onde ele será levado, será um lugar paradisíaco. Como todos nós sabemos que os escravos africanos não precisaram ser 'convencidos' e sim levados a força mesmo, a canção ganha um teor ainda mais forte, pois o narrador tenta se desculpar a ele mesmo daquilo que está sendo feito. Não é maldade, é uma vergonha, ou melhor, é uma auto-ilusão, como melhor forma de poder encarar a barbaridade cometida. A melodia é suave, com cordas e sopros, e Randy Newman canta com uma leveza comovente. Ela inicia com "Na América, você terá comida para comer/ não precisará correr através da floresta/ com arranhões sobre seus pés/ Você cantará sobre Jesus e tomará vinho o dia todo/ è muito bom ser americano". Sim, na verdade, este último verso beira a maldade, mas quase. A segunda estrofe tem "Não há leões ou tigres ou cobras mamba/ Somente a doce melancia e bolos/ Todos os homens são tão felizes quanto conseguem ser/" e o refrão maravilhoso: "Navegar para longe/ Nós atravessaremos o poderoso oceano/ até a baia Charleston" (ponto de chegada do tráfico humano nos EUA). A letra e o jeito que ela é cantada realmente faz nascer em nós a desilusão e a tristeza dos escravizados, e o genial, em nenhum momento a canção fala sobre a imensa amargura de deixar a terra natal forçadamente, ela deixa para o próprio ouvinte sentir isso ao perceber a mentira que está sendo contada.






Link para download: http://www.4shared.com/mp3/TQoFNSAe/237-__264__Randy_Newman_-_Sail.htm