quinta-feira, 9 de maio de 2013

Excertos Literários praticamente desconhecidos, Parte I

Guia breve, porém útil, à desobediência civil


Para se fazer uma revolução precisa-se de duas coisas: primeiro, alguém ou alguma coisa contra a qual se revoltar; segundo, alguém para efetivamente fazer a revolução. O traje é informal e ambas as facções devem ser flexíveis a respeito do local e hora do evento. Mas se nenhuma das partes comparecer, o fiasco será completo. Na Revolução Chinesa de 1650 nenhum dos partidos apresentou-se para a luta, com o que se perdeu um grande estoque de munição.
As pessoas que se revoltam contra os opressores são facilmente reconhecíveis, por serem as únicas que parecem estar se divertindo. Os opressores geralmente são obrigados a andar de terno e gravata, possuem terras e tocam suas vitrolas até tarde da noite sem que ninguém possa reclamar. Sua função é manter o status quo, uma situação pela qual tudo fica exatamente como está, embora costume levar uma mão de tinta de dois em dois anos.

Quando os opressores tornam-se muito rígidos, passamos a ter o que se conhece como Estado Policial- em que se proíbe discordar, dar risadinhas, usar gravata-borboleta e referir-se ao senhor prefeito como Bolão. As liberdades civis são extremamente limitadas no Estado Policial, entre elas a liberdade de expressão, embora a arte da mímica continue permitida.Nenhum crítica ao governo é tolerada, principalmente a respeito do estilo de dançar da primeira-dama.A liberdade de imprensa também é coibida, sendo o noticiário controlado pela censura, que libera apenas as ideias políticas aceitáveis e certos resultados de futebol, desde que não causem comoção entre os torcedores. Os grupos que se revoltam são chamados de oprimidos e estão sempre se queixando de que trabalham muito ou que vivem com enxaqueca.

Um exemplo de revolução foi a Revolução Russa, que arrastou-se durante anos,e só explodiu quando os bolcheviques finalmente descobriram que o tzar e o czar eram a mesma pessoa.
Deve-se observar que quando uma revolução termina, muitas vezes os oprimidos passam a se comportar como opressores, sendo dificílimo para os seus novos súditos conseguir falar com eles ao telefone, filar-lhes um cigarro ou tomar-lhes dinheiro emprestado.

(Woody Allen in Sem Plumas,Ed.Círculo do Livro; trad.Ruy Castro; pp125-6)