terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Grandes Discos que todos que gostam de rock já ouviram Parte III

The Stooges- "Fun House"

A primeira coisa que você sente ao ouvir esse álbum é a raiva do vocalista Iggy Pop. Talvez até mesmo uma raiva niilista, quase uma 'raiva sem causa'. Quase. Por que os riffs incitadores, o baixo incessante, a bateria martelando e os vocais gritados são raiva pura mesmo.
A primeira faixa "Down on the Street" começa com uma execução por fuzilamento feita por baixo/bateria. O nascimento do hardcore aos gritos de 'No walls!'. A segunda faixa (minha favorita) é a contagiante "Loose", um riff extremamente dançante, e o bridge é um achado, quase fugindo da tonalidade. Pois o folêgo não termina aí: a terceira faixa vem de cara com um rock 'n roll sem frescuras, proibitivo para ouvidos mais 'sensíveis'. Um pausa para o cigarro em "Dirt", a quarta faixa, com Iggy Pop balbuciando que "I been dirt, and I don´t care". e não se importava mesmo. E os Stooges queriam impressionar pela força de suas músicas cruas e diretas. A quinta faixa "1970" tem uma das linhas de baixo mais interessantes que o rock já produziu, e o grito quase vomitado de Pop "I feel Alright" esclarece as coisas para os mais incrédulos. A sexta faixa "Fun House", nos brinda com um saxofone fazendo um contraparte aos riffs, chegando as raias do free jazz. A última faixa, "L.A. Blues" é um exercício de estilo, selvageria em modus operandi.

Link para download: http://www.4shared.com/rar/GVmEuB0Z/The_Stooges_Iggy_Pop_-_Fun_Hou.htm

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Grandes Frases que nunca ninguém ouviu, Parte I

  • "Se eu fosse rico, eu seria feliz" (Robertson dos Santos, após ter sido despejado por falta do pagamento do aluguel)
  • "O Domingo seria um dia melhor se a Segunda-Feira também fosse Domingo" (Matheus Benedito, vigia noturno)
  • "2 + 2=9" (Renato Mascarenhas, agiota)
  • "Um filme é uma maneira de fazer o público esquecer que lá fora está fazendo um calor de rachar" (Nelson Gutierrez, lanterninha)
  • "A melhor maneira de ser cortês com as pessoas é concordar com tudo que elas dizem, menos quando elas falam mal de si mesmas" (Pedro Miranda de Albuquerque, Diplomata)

Leituras para curar Insônia, parte I- "As Dicotiledôneas"

As dicotiledôneas têm folhas com nervuras reticuladas, presas ao caule por meio de um pecíolo. As pétalas, sépalas e estames são em número de 5, 2 ou múltiplo. As raízes são pivotantes, o que significa que há uma raiz primária, bem desenvolvida em relação às raízes secundárias. E a semente tem dois cotilédones, daí o nome do grupo.
As dicotiledôneas são mais numerosas e diversificadas que as monocotiledôneas. Agrupam-se em 48 ordens, enquanto as monocotiledôneas englobam 14 ordens. São plantas de grande interesse não só do ponto de vista botânico, mas também sob o aspecto econômico e comercial.
Segundo o desenvolvimento da flor, as dicotiledôneas classificam-se em : semipétalas, que têm as pétalas unidas; dialipétalas, cujas pétalas são livres e distintas; e monoclamídeas, que tem, geralmente, invólucro floral rudimentar ou nulo.

(extraído da Enciclopédia Conhecer, da Editora Abril) (Ah, eu digitei e não usei Ctrl-C + Ctrl-V)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Crônicas que ninguém quer ler-Parte II

O viciado em Crack e sua ladainha


Andava então pelo lado sujo da cidade, que toda cidade no mundo tem seu lado sujo. Se faltam viciados em drogas anti-sociais, não há uma cidade no mundo que não tenha o seu bêbado. Me veio a cabeça aquelas comunidades mórmons, menonitas e outras aberrações da natureza humana, mas essas não valem: deixaram de ser humanos.
Passeava eu, vendo aquelas dezenas de crianças sujas que conseguem rir porque não ainda não tem consciência do futuro miserável que as espera, e mesmo porque mataram o Papai Noel e agora ele não ilude mais ninguém. O Papai Noel fez muita criança infeliz. O bairro pobre não tem nada de romântico como querem os poetas e compositores do povo. O bairro pobre é sujo, é ignorante, é preenchido por esgoto em cada lacuna, você sente a vida ordinária que aquelas pessoas levam: comer, fuder e morrer. Que droga de vida essa.
Entro em um bar. Bêbados por toda a parte, a decadência humana em progressão geométrica.Peço uma cerveja, o dono do bar com suas mãos engorduradas do último salgadinho servido. Recuso o copo e tomo no gargalo, que dizem ser um dos locais mais imundos em um recipiente. Mas não consigo ver as bactérias e por isso não tenho medo. Talvez a fórmula da eternidade esteja nesses bares: contamina-se tanto com a sujeira  que acaba-se imunizado contra a morte. Digo bem, contra a morte e não contra a velhice, essa na verdade vem mais rápida aqui. Passa uma mulher em seus trinta e poucos anos, vestida em um shorts preto, notadamente sujo , e com uma camisa de onde percebiam-se seus mamilos de mulher muito usada. Mas ela ainda consegue chamar a atenção dos homens deste bar. Ela entra , vem ao balcão, para ao  meu lado e pede uma cachaça. Olha para mim fingindo um charme que é mais do que lógico que ela não possuía, acenei com a cabeça e ela me retribuiu com um sorriso. O bom de se estar no bairro pobre é que mesmo um cara feio como eu consegue ser cortejado. Só aqui mesmo.
Foi ridículo ver ela tomar aquela cachaça de cinqüenta centavos em um copo imundo onde dezenas de igualmente imundos beberam o dia todo e lavado com displicência pelo dono do bar, ela bebendo a cachaça  como se estivesse tomando um whisky caríssimo. Dei mais um gole na minha cerveja e abandonei o cortejo à mulher. Ela percebeu o meu desinteresse e foi  se sentar em uma mesinha do canto. Deprimente. Pedi outra cerveja e fui sentar na mesa da mulher dos mamilos flácidos e tristes. Pedi licença como um bom cavalheiro do subúrbio, ela consentiu  ainda no seu teatro de mulher com escolhas a fazer. Eu estava interessado naquele cérebro de mulher post-mortem. Ela achava que eu estava interessado nela, no seu corpo obeso, sujo e cheio de defeitos que o mundo moderno e rico não permite,deus seja louvado. Eu jamais conseguiria ter uma ereção com uma mulher dessas, talvez para isso inventaram aquele comprimido azul.
  
Rápido e sucinto perguntei a ela por que razão ela ainda não havia se suicidado. Ela me responde com um lugar-comum qualquer, mais do que esperado. Pensei em oferecer a minha cerveja com a esperança de que ela quebrasse o gargalo ao tomar e engolisse um monte de vidro, cortando sua garganta, sujando o chão do bar com o seu sangue muito provavelmente infectado por alguma doença de pobre, mas nesse devaneio surge a irritante presença de um viciado em crack.
Porra! Era só o que faltava para completar o cenário dessa peça medonha que ninguém quer ver. Nada mais insuportável do que um viciado em crack que vai pedir dinheiro para poder comprar uma das pedras do dia.
É claro que ele vem até a minha mesa. Nem vou citar a lei de Murphy, veio porque ainda não está grudada em mim como distintivo a decadência dos habitantes locais. O viciadinho começa a sua cantoria de gentilezas a minha pessoa. Eu pronto para sacar alguma moeda , mas resolvi me divertir com aquela irritação. Perguntei à ele, por que ele não criava vergonha na cara e ia trabalhar como Jesus Cristo havia ensinado. Ele me responde, dizendo que tinha vergonha mas era doente (a mulher dos mamilos flácidos e tristes se levanta e vai pegar outra cachaça de cinqüenta centavos), era doente e tinha vergonha. Perguntei qual a quantidade necessária para se morrer de overdose de crack, ele disse que não sabia, que certa vez ficou fumando durante dois dias seguidos e no máximo ocorreram náuseas. Temos um problema, pensei. Eu queria matar esse viciado, matá-lo com o seu próprio remédio que na verdade era uma doença. Por fim, me cansei do viciadinho, dei dois reais, alguém no fundo do bar falou que não era para eu ter feito isso, quase que grito que o dinheiro era meu e eu fazia o que me dava na telha com ele, mas fiquei quieto, afinal de contas sou fraco e não estava com vontade de tomar uma surra hoje. O viciadinho saiu do bar, correndo para a boca mais próxima e seu prazer de 15 segundos, a mulher acabou não voltando a sentar-se  na mesa, me levantei fui até ela e perguntei novamente por que causa ela ainda não havia se suicidado e ela me respondeu com um sonoro “vai se fuder”, aí percebi que ela ainda não havia se suicidado porque ela possuía raiva suficiente dentro dela para continuar vivendo.





quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Crônicas que ninguém quer ler, Parte I

Um ônibus Lotado

Andando de ônibus, hora de movimento (não quis escrever hora do rush  porque esse termo está muito batido). Ao entrar, o veículo popularesco ainda consegue me oferecer alguns lugares, infelizmente compartilhados com alguém que invariavelmente faz cara de mau-humor para que ninguém vá se sentar ao lado delas. Achei uma senhora de seus 50 e alguns anos, com cara de poucos amigos é claro. Também estou pouco me lixando, o ônibus é um veículo compartilhado, se quer viajar sozinho que compre um carro. Sento-me esperando o inevitável: essa lata vai encher ao limite do aceitável. Eu sei disso, porque esse é o meu cotidiano. No rádio do veículo está tocando um tipo de música que o motorista pensa que todos estejam gostando, por isso coloca em um volume absurdo. Sertanejo Universitário, essa é uma das maiores piadas que os anos 2000 puderam inventar. Travestiram o country norte-americano, e rotularam de universitário. O mau gosto agora já é acadêmico. E vai tocando essa música, cujas letras possuem só dois temas: mulher que foi embora ou festa para esquecer a mulher que foi embora. Uma melodia pobre e suas rimas de 1ª conjugação e lotadas de sufixos ão  para rimar com coração. Eu mereço isso por não me esforçar mais na vida. Eu mereço isso. Colhe-se o que se planta.
Agora já há várias pessoas em pé. Viajar em pé é uma desgraça, não pelo desconforto físico, mas sim porque você não tem a janela para olhar e não precisa ficar olhando para o rosto dos outros. Quando você viaja em pé em um ônibus lotado, você tenta desviar os olhos dos outros desafortunados e só o que consegue são outros olhos igualmente tentando desviar dos seus olhos. Mas hoje estou sentado. Mas o diabo não dorme em serviço.Uma mulher gordíssima chega até o meu lado e sua barriga gigante começa a roçar o meu braço. Recolho o meu braço mais para dentro, no que faz ela pensar que possui mais espaço para espalhar sua carne gordurosa e novamente começa a se encostar em mim. Meu braço já está quase junto ao outro. Me levanto e ofereço meu lugar a essa baleia para que pelo menos não fique encostando em mim. Ela agradece e ainda se sai com “nossa, que gentil”, mal pensa a  Lady Pounds  que se alguém aqui fez uma gentileza, foi ela. Abaixo a cabeça e tento olhar janela afora. O ônibus agora já está lotado o que torna dificílima  a tarefa de sair dele. Já fico desejando uma colisão frontal com um caminhão a 120 km/h, um banho de sangue e manchete em telejornais de cobertura nacional. E tenho quase certeza que eu seria um dos óbitos. Pena, não vou poder escutar a 1ª Sinfonia do Mendelssohn novamente...passado o desejo, escuto o som que faltava: uma criança chorando. Sempre há uma criança chorando, tanto é que sei que muitos vão dizer ser um lugar-comum eu escrever aqui que havia uma criança chorando. Vocês têm razão: é lugar-comum mesmo. Mas ela estava lá, chorando seu choro de notas agudas, desesperando a mãe naquela preocupação de estar irritando os outros passageiros, no que ela também tem razão: está irritando todo mundo, não só pelo som estridente, mas porque reafirma a condição de pobreza de todos os passageiros. A criança quer ter seu desejo atendido e por isso chora, ela não se importa de estar incomodando dezenas de pessoas. A mulher ao lado da mãe e sua criança soprano, tenta agradar a criaturinha com alguma careta no que obtém algum sucesso, mas não creio que aquele bebê esteja desejando rir. Mas parou de chorar. A mulher toda orgulhosa por ter conseguido aquela façanha, talvez agora deseje ter uns 450 filhos.

Minha parada se aproxima. Pego o meu facão imaginário e começo a abrir caminho no meio dessa selva de pessoas infelizes.
Espremido e espremendo vou me dirigindo a saída, onde devem ter umas 989 pessoas, já que mesmo aqueles que vão sair somente quando o ônibus já estiver vazio, se aglomeram ali na frente, creio que vêem aquela porta como uma espécie de passagem do inferno para o paraíso, e por isso não a abandonam. Após o desconforto final, desembarco na minha parada. Aqui fora está longe longe longe de ser o paraíso, mas o inferno acelerou e foi embora. 

Até amanhã.