quarta-feira, 25 de abril de 2012

Estórias com moral, Parte I

"A dona de casa e o andarilho"   


(Cena: morador de rua na porta de casa) 


"A senhora tem uma panela para me dar?"


 -"Sim, eu tenho uma para lhe dar" (vai e entrega a panela) 


-"A senhora não tem algo para colocar dentro da panela? Preciso de alguns temperos, tipo alho, cebola, algo assim..." 


(dona de casa pensando) "Vou dar à ele esse caldo de galinha que é insuportável" 




Moral da estória: A bondade cessa nos temperos.






"O jogador inveterado e a síntese dos tempos"




Jogador acaba de perder pela 5ª vez seguida no jogo de buraco. Todo o seu dinheiro já acabou. Ele pede emprestado, joga novamente e perde pela 6ª vez. Injuriado, vai para casa e dá um pontapé no cachorro de estimação.


Moral da estória: A vida é uma merda, e é ainda mais para quem não tem nada a ver com a situação.




"A prostituta  e a Previdência Social"


Prostituta já de longa carreira, pagava com pontualidade a contribuição social. Um dia, após ter sido espancada (com seu consentimento) por um cliente sádico (mas que pagava bem) teve que recorrer ao serviço de saúde a fim de tratar de fratura em duas costelas, e esperou (com bastante dor) por cerca de 3 horas até ser atendida por um médico igualmente em fim de carreira e muito mal disposto, que solicitou uma pequena atadura e receitou paracetamol (genérico) e repouso incondicional à prostituta; "Doutor, puta não pode ter folga não", no que o médico respondeu (não constou no prontuário), "Mas médico tem, passar bem".


Moral da estória: A prostituta encontrara (um dos) seus filhos

terça-feira, 17 de abril de 2012

Grandes Discos que muita gente diz ter ouvido, mas bem poucos se lembram ou na verdade, não o ouviram mesmo, parte IV

Roxy Music, "Roxy Music" (1972)


Um dos grandes nomes do glam rock, o Roxy Music era musicalmente o mais ousado de todos, isso sem nunca perder a identidade pop, pois se uma coisa que o Roxy Music é, é ser pop, desde a personalidade de seu mentor, Bryan Ferry até seus shows loucaços e cheios de glamour (como bem pedia o movimento). Mas, quem pensa em um pop industrial, se engana: a música deles é bastante criativa e cheia de nuances, inclusive sendo uma das primeiras bandas pop a usar massivamente os sintetizadores, graças ao seu gênio eletrônico, Brian Eno, que seria nos anos 80 e 90 um dos maiores produtores do mercado musical. O álbum começa a 100 km/h com "Re-make/Re-Model", que após um início tímido, sai em disparada em busca de uma garota, cuja referência mnemônica é uma placa de carro, cantada na música (CPL593H), mostrando realmente que a liberação sexual era uma realidade e que os encontros fortuitos e passageiros vieram para ficar.A base remete diretamente ao krautrock (movimento musical alemão, que mesclava rock, eletrônica e minimalismo). Em seguida, a ode eletrônica "Ladytron" (inclusive é o nome de uma banda eletrônica dos anos 2000), que inicia-se com uma misteriosa aura ao som de sintetizadores e de um oboé, para então seus versos cadenciados 'grudarem' imediatamente. A música finaliza com camadas de sons eletrônicos aliados a uma percussão ferroviária. Na terceira faixa, a banda volta-se para um pop mais 'sadio': "If there is something" onde o narrador explicita que fará qualquer coisa pela amada, "eu faria qualquer coisa por você/ eu escalaria montanhas/ eu nadaria por toda a imensidão azul dos oceanos/ eu andaria milhares de milhas" e Ferry exagera na impostação como pedia o figurino do glam rock. O curioso é que esta faixa termina com uma melodia que é muito parecida com o final da música "Under the Sun", do Black Sabbath, também de 1972. Plágio? Coincidência? O rock volta com tudo em "Virginia Plan", carregada de peso, mas com concessões e a letra é sobre alguém que está curtindo com avidez sua juventude. Então, a calma de "2.H.B" e suas nuances eletrônicas. Aqui os sintetizadores conduzem toda a música (apesar do peso do baixo) e o final é belíssimo e relaxante. Surge então a esquisitice de "The Bob (Medley)", e seu início não deve nada a passagens do psy-trance, surgido décadas depois (mostrando que Eno é realmente 'o cara' do pop moderno). A letra é cantada meio que em desespero, mas não um desespero melodramático, mas perturbado. No meio, um saxofone sola ao fundo enquanto sons de batalha pronunciam-se (muito sem dúvida, as perturbações psicológicas do próprio narrador). Então o coro anuncia "Muitos momentos belos/ Muitos momentos tristes/ Muitos momentos maravilhosos/ Mal demais" e que conduz ao um crescendo de insanidade. Tudo cessa, um piano e um oboé conduzem a música e o narrador sussura, "Mas quando a festa se acabou/ e tudo estava quieto e calmo/ nós caminhamos juntos a luz do luar/ e olhamos para a calma do lago" , para a loucura retirar o narrador do seu sonho e encerrar a música em volume altíssimo. A sexta faixa "Chance Meeting", com voz e piano na primeira estrofe e um reencontro amargurado entre dois amantes. As coisas vão ficando mais dramáticas e sons agudos ao fundo demonstram todo o ressentimento do momento. Uma aura mais leve reaparece na ultra-pop "Would You Believe", que lembra muito as canções de amor pop dos anos 50. A penúltima faixa, "Sea Breezes" que canta amargurada "é uma vergonha pensar no ontem como uma vergonha" e se desculpa dizendo "Mas há até anjos que cometem os mesmos erros no amor", cantado de uma forma tristonha, e com grande economia no arranjo. Então, o tom amargurado do canto de Ferry volta na estrofe final, quase raivoso "Agora que estamos sozinhos/ as coisas parecem mais difíceis" . E o álbum finaliza com uma homenagem do grupo ao doo woop  dos anos 50, grande  fonte de inspiração para o Roxy Music. "Bitters End" é romance dramático, bem ao estilo do clássico "Carol" e afins e canta choroso, "mas agora que você encontrou outro, haverá alguém que me encontrará?".


O Glam Rock foi um movimento homogêneo nas atitudes, mas bastante heterogêneo musicalmente. Junto com David Bowie, creio eu que o Roxy Music foi o que mais influenciou o pop das décadas seguintes, graças principalmente a Brian Eno, que colocou definitivamente os sons eletrônicos dentro da música jovem ocidental.




Link para download:
https://rapidshare.com/#!download|636p7|247776258|1972_Roxy_Music1.zip|35469|R~52484BE8A23AC5171032CD063F0E4050|0|0

https://rapidshare.com/#!download|469p4|247777115|1972_Roxy_Music2.zip|31603|R~6B099B2EACF038617FCBA433AF0FAD33|0|0

terça-feira, 10 de abril de 2012

Grandes Discos que somente meia-dúzia ouviram, Parte VII

David Ackles-"American Gothic" (1972)


Este disco, lançado em 1972, completamente perdido no meio do glam rock, dos colossos do rock progressivo e do hard rock é um grande achado. O título remete diretamente a um dos maiores quadros da pintura norte-americana (reproduzido aqui neste artigo) e que reproduz justamente o que o quadro quer passar: o sentimento de ser do norte-americano, uma leitura do sentimento dos EUA. E o melhor, usando de uma sonoridade de muita classe, com arranjos que são conjuntamente elaborados e sutis, e a voz de Ackles (que até lembra Scott Walker, mas sem a dramaticidade deste) permeia tudo com uma gentileza ímpar. O álbum inicia com a música título, "American Gothic"  e uma descendente escala no piano acompanhada de seríssimos sopros, contando a estória de pessoas infelizes, concluindo com "Mas ela é feliz? Oh, não, não, não", em um belíssimo arranjo de piano, cordas e sopros. Segue-se a belíssima "Love´s Enough", com o piano permeando toda a canção, acompanhada aqui e acolá por violão e um clarinete econômico que só ajuda na sutileza e canta, "o amor é suficiente para você achar e perder seu coração", e quase no fim da canção, o som de um órgão escuta-se ao fundo dando a tranquilidade que o amor requer. A terceira faixa "Ballad of the Ship of State", que começa calmamente, mas no bridge explode em sonoridade, e grita "Porque você está atrasado 10 anos! 10 anos!" E o capitão do navio fala a sua tripulação, que questiona "Este navio está indo para casa?", um sentimento que reflete dias de insegurança. Toda esta agitação é substituída pela calma da faixa seguinte, "One Night Stand", uma conversa coloquial entre um casal de amantes, "desejo que não tenha sido um encontro de uma noite só", um prenúncio de uma paixão vindoura e desejada, mas tudo é esclarecido quando um dos amantes pergunta "Ei, qual é o seu nome?", deixando claro que seria mesmo um encontro de uma noite só. "Oh, California", de clima vaudeville, remetendo a Scott Joplin e outras lembranças musicais norte-americanas. Mas o clima de alegria desaparece com a faixa seguinte, "Another Friday Night", que lembra bastante as canções de Elton John, talvez por influência do produtor deste disco, Bernie Taupin, companheiro musical inseparável (na época) do referido cantor. Não sei se por ironia, ou por homenagem mesmo (acho que este segundo), a faixa que vem a seguir, "Family Band", beira ao gospel cantando a união da família e a amizade de Jesus Cristo (com um coro digno de uma igreja protestante). Então tudo muda, de novo, a sombria "Midnight Carrousel", com seus acordes de piano gravíssimos, e uma orquestração carregada de mistério, parecendo uma narração de um poema de Edgar Allan Poe, em uma canção realmente atemporal. Um clima de despedida aparece em "Waiting for the Moving Van",  com o narrador descrevendo a sua velha casa (e por extensão sua vida passada) que está sendo deixada para trás. A orquestração carrega de tristeza, mas quando o narrador se lembra dos momentos felizes, a orquestração carrega-se de sol. A décima faixa, "Blues for Billy Whitecloud", usando do jazz dos anos 30, como um musical, e a narração torna-se mesmo isso, a descrição de um personagem. O álbum encerra-se com a épica "Montana Song", a narração de um filho pródigo, que declara "achei aquilo que vim procurar", , carregada de música erudita contemporânea, especialmente o compositor norte-americano Aaron Copland.


Ouvi este álbum várias e várias vezes, sempre descobrindo novas nuances, uma obra que mesmo na sua época foi praticamente ignorada.


Link para download: http://www.4shared.com/rar/DfMyuHFb/David_Ackles-American_Gothic.html?

terça-feira, 3 de abril de 2012

Haicais Errados, Parte II

trilha sonora: David Ackles, "Midnight Carousel"

Velhice:
Solidão.
"Já Sabia"

Calou-se agora.
Pensou.
Queria falar.

Beijos inesperados,
nuvens esparsas,
asfalto crú.

Correra.
Não alcançou.
Nunca alcançou.

Queria a fuga,
esperava-a como presente,
mas era sempre futura. 

Talvez se jogasse
no último segundo.
Se jogou. 

Não era mistério,
que o homem:
havia morrido