terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Letras antíteses de "Ai, se eu te pego", Parte II

Leonard Cohen, "Diamonds in the Mine" (1971)

O trovador canadense e um pessimismo lírico, de fato mais realista do que pessimista, eu diria. A letra inicia-se com o emblemático verso "The woman in blue, she´s asking for revenge", algo nada nada amistoso. No terceiro verso "The river is swollen up with rusty cans", que eu interpretaria como "o curso da vida está cheio de coisas repetidas ou estagnadas", ou seja, o sonho dos anos 60 terminara e tudo voltara ao que era antes. Depois desse 'lamento' inicial vem o belíssimo refrão, onde Cohen demonstra sua tese de que a revolução da juventude flower power fracassara :

"And there are no letters in the mailbox.
And there are no grapes upon the wine,
And there are no chocolates in the boxes anymore,
And there are no diamonds in the mine"

Cohen declama isso tudo com uma espécie de queixume misturado com desprezo, aliado a um backing vocal feminino que quase santifica seus versos.

Um grande hino do folk, dos anos 70 e de sempre.

Link para download: http://www.4shared.com/mp3/lXOOztN0/Leonard_Cohen_-_13_Diamonds_in.htm




quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Grandes Discos que somente meia-dúzia ouviram-Parte IV

A capa é pavorosa, eu sei, mas o som do álbum é espetacular
Emerson, Lake & Palmer- "Tarkus" (1971)


Apesar de soar razoavelmente datado (não musicalmente, mas em função dos sons sintéticos que já foram há muito suplantados), este álbum sem dúvida alguma não é para todos os ouvidos, sejam os contemporâneos da obra ou os que foram surgindo depois.


Como todo boa peça do rock progressivo (ou as vezes nem tão boa assim), inicia-se com a tradicional faixa de mais de 20 minutos, no caso aqui, um medley (assim como o Pink Floyd fizera um ano antes em "Atom Mother Heart", ou para os mais íntimos, 'O disco da Vaca', como também o Rush e mais apropriadamente o então supergrupo Yes). Mas, voltando ao ELP, Tarkus é uma grande mistura de rock progressivo, claramente inspirada na música erudita contemporânea do argentino Alberto Ginastera. Cada 'movimento' preserva o tema principal, mais uma vez revelando sua raiz na música erudita. Quanto a execução, sobressaem-se os talentos quase sobrenaturais do tecladista Keith Emerson e do bateirista Carl Palmer, cuja identidade é bem calcada no jazz da época. A faixa é um tour de force no que se diz respeito ao rock progressivo. E como escrevi anteriormente, não é para todos.


Nas faixas 'do lado B', encontramos o simpático rock 'n roll/honky tonk "Are you ready Eddy" que soa completamente diferente da faixa título. Outra deliberadamente destinada ao grande público é "Jeremy Bender" com seu piano de bar de cabaré, (e nem por isso deixa de ser boa). "A time and a place" volta ao estilo peculiar do ELP, com a batida incessante de Palmer e os teclados de Emerson 'quebrando os compassos ao meio'. "Infinite Space" é inspirada no som do cool jazz do final dos anos 50, uma espécie de relaxamento dentro da densidade do som uníssono do grupo, assim como "Bitches Crystal" que é mais levado ao mundo pop.


Esta obra tem que ser ouvida várias e várias vezes até que o ouvinte consiga compreender toda a sua mensagem musical. Quem compreende, não a esquece jamais.


Link para download: http://www.4shared.com/rar/KcIhTTUy/Emerson_Lake_And_Palmer_-_ELP_.htm

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Letras antíteses de "Ai se eu te pego", Parte I

Don McLean- "Vincent" (1971)

Uma elegia ao pintor holandês Vincent Van Gogh, mestre do pós-impressionismo. Com uma melodia belíssima e versos literários como "With eyes that darkness my soul" ou a belíssima estrofe "Now I understand/ What you tried to say to me/ And how you tried to set them free/ They would listen they did not know how/ Perhaps they´ll listen now". 

Com uma letras dessas, não há banalidade que resista a qualquer análise.











quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Haicais errados, Parte I

Ontem era hoje
Ontem
De que eu falava?

Mundo em cores
As vezes,
Daltônico

Trouxe o presente
Não, um presente
Nada demais

Acordei
Dia porvir
Dormi novamente

Um relógio na parede
me avisou
que eu errara

Desenhou 
um coração imperfeito.
Por isso, perfeito.
  

 
 


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Obras Incrustadas em Pedra, Parte I- O Bolero de Ravel

Se a música italiana foi até recentemente predominantemente vocal e fundou-se, mais do que qualquer outra de outra nacionalidade na voz humana, a música francesa foi quase que do mesmo modo intimamente relacionada a dança. Não só o próprio ritmo da dança- da bourrèe aos blues- fascinou os compositores franceses, mas o elemento rítmico por si mesmo como também a sugestão do movimento plástico e fenômenos visuais. Ravel, cuja mãe era espanhola basca, o pai engenheiro e o tio um decorador de interiores- quase não foi exceção. O bolero era originalmente uma viva dança espanhola e o opus 19 de Chopin mantém esse tempo característico. A peça de Ravel é muito mais lenta do que viva e pode ser considerada sob dois aspectos- como um estudo de orquestração e um ensaio no conceito do crescendo. O próprio Ravel não deu grande importância à peça, a qual descreveu como "uma obra para orquestra sem música", mas o efeito hipnotizante das repetições e variações do tema e as engenhosidades de sua apresentação orquestral não deve reduzir nossa apreciação das habilidades puramente musicais e da imaginação que a obra revela. Nem é necessário conhecer o cenário utilizado por Ida Rubinstein quando ele dançou a obra: a música é inteiramente auto-suficiente e pode ser apresentada por si mesma, esquecendo os absurdos do louvor e da reprovação que surpreenderam o compositor quando da estreia em 1928.

Texto de Martin Cooper, na contra-capa do álbum "Ravel-Bolero", da Deutsche Grammophon, 1982.

Link para download: http://www.4shared.com/mp3/fDxixoyH/Maurice_Ravel_-_Bolero_de_Rave.htm