domingo, 27 de maio de 2012

Contos que ninguém quer ler, Parte I

Um Dia na Cidade

(trilha sonora): 


E eu corri cidade afora, após ter acordado e tomado uma xícara de café amargo que não consegui tomar por inteiro, pois me lembrou momentos passados em algum momento de desilusão. Saí e vi um jornal caído na calçada e a manchete principal estava encoberta por lama recente e eu só consegui ler "mais juros" e decidi seguir em frente em um rumo que só dizia respeito a mim mesmo. A coisa começava a fazer efeito, e tudo se passava a velocidade do som e eu não me ouvia. Não, eu não ouvia nada, só conversas interiores, e os meus fantasmas não me ajudavam em nada, os meus fantasmas só me indicavam erros e mais erros, preciso exorcizá-los o mais rápido possível. Tomei fôlego, olhei para o alto e lá em cima vi a figura de um anjo, não, não era coisa nenhuma, era um lavador de janelas, e um lavador de janelas não tem absolutamente nada de poético, nem para o lado da tristeza nem para o lado da alegria. Parei no semáforo, e a luz estava vermelha (para mim) e eu esperei que os automóveis passassem até que o mundo me desse permissão para continuar e eu continuei porque ficar parado é coisa que não combina com uma vida pensante e mesmo a maior preguiça do mundo é um símbolo de rebeldia, e rebeldia pensa e pensamento corre e não é parado. Preciso parar com isso, preciso correr, preciso tomar alguma coisa para me sentir livre desse mundo que compete e que não sabe (sim, sabe, mas fingi que não) que tudo ao final vai acabar pó, voltaste ao pó, eu quero sentir o Universo lá fora, mas o Universo não responde a ninguém, ele é indiferente e seus bilhões de anos são como nada diante de uma eternidade que nos é negada, ainda bem.
Cheguei a casa dele, tirei a minha arma do bolso e atirei cinco vezes no peito dele, aquela cara de surpresa, ele não devia estar surpreso porque sabia que eu ia fazer aquilo, que o Senhor o tenha. E não me perdoe.

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