terça-feira, 10 de abril de 2012

Grandes Discos que somente meia-dúzia ouviram, Parte VII

David Ackles-"American Gothic" (1972)


Este disco, lançado em 1972, completamente perdido no meio do glam rock, dos colossos do rock progressivo e do hard rock é um grande achado. O título remete diretamente a um dos maiores quadros da pintura norte-americana (reproduzido aqui neste artigo) e que reproduz justamente o que o quadro quer passar: o sentimento de ser do norte-americano, uma leitura do sentimento dos EUA. E o melhor, usando de uma sonoridade de muita classe, com arranjos que são conjuntamente elaborados e sutis, e a voz de Ackles (que até lembra Scott Walker, mas sem a dramaticidade deste) permeia tudo com uma gentileza ímpar. O álbum inicia com a música título, "American Gothic"  e uma descendente escala no piano acompanhada de seríssimos sopros, contando a estória de pessoas infelizes, concluindo com "Mas ela é feliz? Oh, não, não, não", em um belíssimo arranjo de piano, cordas e sopros. Segue-se a belíssima "Love´s Enough", com o piano permeando toda a canção, acompanhada aqui e acolá por violão e um clarinete econômico que só ajuda na sutileza e canta, "o amor é suficiente para você achar e perder seu coração", e quase no fim da canção, o som de um órgão escuta-se ao fundo dando a tranquilidade que o amor requer. A terceira faixa "Ballad of the Ship of State", que começa calmamente, mas no bridge explode em sonoridade, e grita "Porque você está atrasado 10 anos! 10 anos!" E o capitão do navio fala a sua tripulação, que questiona "Este navio está indo para casa?", um sentimento que reflete dias de insegurança. Toda esta agitação é substituída pela calma da faixa seguinte, "One Night Stand", uma conversa coloquial entre um casal de amantes, "desejo que não tenha sido um encontro de uma noite só", um prenúncio de uma paixão vindoura e desejada, mas tudo é esclarecido quando um dos amantes pergunta "Ei, qual é o seu nome?", deixando claro que seria mesmo um encontro de uma noite só. "Oh, California", de clima vaudeville, remetendo a Scott Joplin e outras lembranças musicais norte-americanas. Mas o clima de alegria desaparece com a faixa seguinte, "Another Friday Night", que lembra bastante as canções de Elton John, talvez por influência do produtor deste disco, Bernie Taupin, companheiro musical inseparável (na época) do referido cantor. Não sei se por ironia, ou por homenagem mesmo (acho que este segundo), a faixa que vem a seguir, "Family Band", beira ao gospel cantando a união da família e a amizade de Jesus Cristo (com um coro digno de uma igreja protestante). Então tudo muda, de novo, a sombria "Midnight Carrousel", com seus acordes de piano gravíssimos, e uma orquestração carregada de mistério, parecendo uma narração de um poema de Edgar Allan Poe, em uma canção realmente atemporal. Um clima de despedida aparece em "Waiting for the Moving Van",  com o narrador descrevendo a sua velha casa (e por extensão sua vida passada) que está sendo deixada para trás. A orquestração carrega de tristeza, mas quando o narrador se lembra dos momentos felizes, a orquestração carrega-se de sol. A décima faixa, "Blues for Billy Whitecloud", usando do jazz dos anos 30, como um musical, e a narração torna-se mesmo isso, a descrição de um personagem. O álbum encerra-se com a épica "Montana Song", a narração de um filho pródigo, que declara "achei aquilo que vim procurar", , carregada de música erudita contemporânea, especialmente o compositor norte-americano Aaron Copland.


Ouvi este álbum várias e várias vezes, sempre descobrindo novas nuances, uma obra que mesmo na sua época foi praticamente ignorada.


Link para download: http://www.4shared.com/rar/DfMyuHFb/David_Ackles-American_Gothic.html?

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