sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Obras Incrustadas em Pedra, Parte I- O Bolero de Ravel

Se a música italiana foi até recentemente predominantemente vocal e fundou-se, mais do que qualquer outra de outra nacionalidade na voz humana, a música francesa foi quase que do mesmo modo intimamente relacionada a dança. Não só o próprio ritmo da dança- da bourrèe aos blues- fascinou os compositores franceses, mas o elemento rítmico por si mesmo como também a sugestão do movimento plástico e fenômenos visuais. Ravel, cuja mãe era espanhola basca, o pai engenheiro e o tio um decorador de interiores- quase não foi exceção. O bolero era originalmente uma viva dança espanhola e o opus 19 de Chopin mantém esse tempo característico. A peça de Ravel é muito mais lenta do que viva e pode ser considerada sob dois aspectos- como um estudo de orquestração e um ensaio no conceito do crescendo. O próprio Ravel não deu grande importância à peça, a qual descreveu como "uma obra para orquestra sem música", mas o efeito hipnotizante das repetições e variações do tema e as engenhosidades de sua apresentação orquestral não deve reduzir nossa apreciação das habilidades puramente musicais e da imaginação que a obra revela. Nem é necessário conhecer o cenário utilizado por Ida Rubinstein quando ele dançou a obra: a música é inteiramente auto-suficiente e pode ser apresentada por si mesma, esquecendo os absurdos do louvor e da reprovação que surpreenderam o compositor quando da estreia em 1928.

Texto de Martin Cooper, na contra-capa do álbum "Ravel-Bolero", da Deutsche Grammophon, 1982.

Link para download: http://www.4shared.com/mp3/fDxixoyH/Maurice_Ravel_-_Bolero_de_Rave.htm

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