Em março de 1824, um ano e meio depois da composição da "Inacabada", Schubert escrevia a seu amigo Kupelwieser ter iniciado um novo quarteto para cordas e um octeto, querendo assim "abrir caminho no sentido da grande forma sinfônica". Mas o ideal sinfônico do musicista e compositor vienense se realizou numa única obra, antes de novembro de 1828, quando morreu com apenas 31 anos de idade: a Sinfonia em Dó Maior, D.944, dita anteriormente a Sétima e definida hoje, segundo uma numeração atualizada, como a Nona de Schubert.
As palavras de Robert Schumann, um admirador entusiasta de Schubert, "a divina extensão desta sinfonia, como um grande romance de Jean Paul, que não pode acabar nunca..." ficaram associadas à obra desde a primeira execução e deram lugar a equívocos evidentemente indestrutíveis. Em verdade, eles podem facilmente fazer pensar que o genial lírico e criador melódico em sua assim chamada "Grande" Sinfonia em Dó Maior (em contraposição à "Pequena", nº 6) tenha se esquecido de si mesmo, indo além de qualquer limite formal. Nada porém, é mais errôneo do que tal observação. Schubert era -coisa frequentemente ignorada- um compositor que nos poucos anos que lhe foram concedidos experimento uma incrível evolução espiritual e musical, e obras como o último Quarteto para Cordas, o Quinteto op.163 e também e sobretudo a Nona, pouco ou nada têm em comum com algumas das suas primeiras sonatas, que se apresentam como uma música dos "belos momentos", despreocupada e inserida nos esquemas tradicionais.
Em suas últimas obras, Schubert segui os princípios composicionais do admirado Beethoven e tentou dar a cada composição um desenvolvimento formal lógico e individual, conseguindo-o de maneira apenas pessoal. Completamente "schubertianos" e novos são os acentos românticos da música, presentes já no tema introdutório da trompa, as delicadas cores húngaras do segundo movimento, que é quase uma marcha, e a forma mais melodicamente expansiva do que concentrada nos motivos.
Por outro lado, em cada um dos quatro movimentos, reconhece-se inconfundivelmente que Schubert absorveu as práticas convencionais dos clássicos de Viena e as integrou sem ruptura na sua linguagem musical. Sobretudo no Finale, com seu primeiro conjunto temático, sinfonicamente "aberto" e impulsionado à frente, e com um tema colateral que na melodia e no acompanhamento deriva até à última nota do material precedente. Mas também para o primeiro movimento Schubert encontrou uma solução formal tão original quanto lógica, isto é, quando no Allegro faz ressoar mais vezes o tema da trompa do Andante introdutório e termina o movimento com a volta em fortissimo, do mesmo tema.
O fato de a Sinfonia em dó maior representar, pois, um exemplo de equilíbrio formal e ser, não obstante suas vastas dimensões, o resultado sonoro de uma linearidade lapidar e serena, deriva talvez de Schubert- como relevam estudos recentes- antes de terminar a partitura, em março de 1828, se ter dedicado à obra de maneira mais intensa e extensa do que até agora se supunha.
No que tange á sorte que essa música teve em seguida, já se escreveu muito: a Sociedade dos Amigos da Música, de Viena, a rejeitou depois dos primeiros ensaios. Após a morte de Schubert foi posta sob a guarda do irmão, Ferdinand. Robert Schumann a descobriu dez anos mais tarde e ele se imcumbiu de enviá-la à Gewandhaus, de Leipzig, onde a 21 de março de 1839 a Sinfonia em dó maior foi executada sob a direção de Felix Mendelssohn.
Conforme as palavras de Schumann, teve um efeito sobre os ouvintes "como nenhuma outra, depois das beethovianas"
(Texto de Ingo Harden, para o álbum da Deutsche Grammophon, edição de 1977)